1179526197_violencia21.jpgAtualmente falamos sobre assaltos, estupros, violência contra mulheres e crianças, tortura e morte como se fossem questões banais da vida cotidiana. Ontem tive a certeza disso.

Ao meio-dia peguei um ônibus que faz a linha Novo Hamburgo/São Leopoldo para me dirigir ao trabalho e, como de costume, sentei no penúltimo banco. A sonolência clássica que nos domina após o almoço estava começando a tomar conta do meu corpo. Recostei-me na janela e já estava preparava para tirar aquela pestana, quando um homem jovem e bem arrumado adentrou no transporte coletivo no bairro Boa Saúde, Novo Hamburgo.

A princípio parecia um passageiro como outro qualquer, menos por um motivo: a faca que segurava na mão direita. Em questão de segundos aquela arma pontiaguda apontava em direção ao cobrador. Guiado pelos seus instintos, ele reagiu e travou uma luta pela com o assaltante.

Num primeiro momento coloquei a mão dentro de minha bolsa para retirar o celular e o pen drive e os esconder debaixo do banco. Mas o pânico foi tão grande que acabou paralisando os meus movimentos, a única coisa que se mexia no meu corpo num ritmo alucinante era o coração. Uma mulher que estava sentada próxima ao cobrador levantou-se na tentativa de sair pela porta, contudo ela estava fechada e o ônibus seguia em movimento. A mulher acabou por desistir da idéia, sentou-se ao meu lado e agarrou-se no meu braço.

Enquanto isso, o cobrador conseguiu tirar a faca da mão do criminoso, mandou o ônibus parar e o expulsou da condução. Aquele homem possuído pela raiva de não ter conseguido roubar alguns trocados, ameaçou voltar com um revólver.

A viagem seguiu normalmente e sem eu ver sequer uma viatura da polícia. A mulher sentada ao meu lado tremia. Minhas pernas estavam moles e minha boca aberta. Perguntei ao cobrador se ele estava bem e, aparentemente, parecia estar calmo. Na hora do desembarque o alertei para nunca mais reagir, pois ele poderia ter se ferido caso não tivesse conseguido dominar o bandido. O cobrador pareceu não aceitar a minha opinião e disse que já havia sido assaltado outras vezes.

Quando perguntei se iríamos registrar a ocorrência, a resposta foi “não”. O vendedor de vassouras que estava sentado próximo a mim, garantiu que o bandido é conhecido dos moradores do bairro, pois já assaltou vários estabelecimentos comerciais.

Passei o dia pensando naquele assaltante jovem e bem aprumado. Hoje em dia o bandido não é mais um maltrapilho que usa roupas rasgadas e um boné sujo. Agora ele usa terno ou roupas de marca e gel no cabelo.

Com certeza aquele homem estava pronto para invadir outro ônibus, uma casa ou um comércio. Os seus assaltos, assim como os de outros criminosos, tornaram-se corriqueiros e as pessoas não acreditam mais na polícia. Pra que denunciar? Só se gasta tempo e ainda se corre o risco do bandido voltar para se vingar.

O pior de tudo não é as pessoas se acostumarem com os assaltos, mas é a banalização de nossas vidas. Quando não denunciamos esses criminosos estamos dando a eles a chance de acabarem com vidas inocentes. Alguém ainda lembra do menino João Hélio Fernandes? Eu lembro e não quero que isso aconteça com os meus parentes e amigos.

Meu avô conta que antigamente não se colocava cadeado nas portas, mas apenas uma tramela para os animais não entrarem dentro de casa. Hoje erguemos muros, colocamos grades, cerca elétrica, cães de guarda e pagamos segurança particular. Além disso, repassamos diariamente e-mails aos nossos conhecidos com dicas de segurança e alertas para não caiam nos inúmeros golpes espalhados por aí. Cadê a melhoria da segurança, a contratação de novos policiais e a compra de novas viaturas prometidas a cada eleição pelos candidatos a presidente, deputado, governador, prefeito e vereador?

Quero deixar registrado aqui as minhas dicas. Nunca reaja e sempre denuncie aqueles que estão praticando atos ilícitos. Comece a prestar mais atenção antes de sair de casa e do trabalho, observe bem as pessoas e os lugares por onde passa, ande sempre em lugares movimentados, não faça à mesma rota todos os dias e nunca saia sem alguns trocados, várias pessoas já morreram por não terem nada de valor. Precisamos dar mais valor a nossa vida, o amanhã pode não chegar, muitas vezes, pela falta de segurança pública.

Texto publicado no site Portal3 e no site Novohamburgo.org

comentários
  1. alineboff disse:

    Oi Dani…

    Já te adicionei nos meus favoritos! 🙂

    Beijokas.

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